Série: pessoas e lugares que contam a história de Saboeiro: Especial Rio Jaguaribe:

Saboeiro, como toda cidade, foi se formando a partir da margem do Rio Jaguaribe. Jaguaribe (jaguar-y-pê) vem do Tupi-Guarani e significa “Rio das Onças”. No rio Jaguaribe foram construídos dois grandes açudes: o Orós e o Castanhão. Com a ajuda do Açude Orós, deixou de ser o maior Rio Seco do Mundo e passou a ser um rio perenizado.

Primeiras Ocupações

O Rio Jaguaribe nasce no alto da Serra da Joaninha, em Tauá, e deságua no Oceano Atlântico em Fortim, no Litoral Leste. De um ponto a outro tem percorrido cerca de 670km em metade do território cearense. Nos anos 1700 teve suas terras divididas em sesmarias, ou seja, roubados os espaços dos índios da região — historicamente é nas margens dos rios que se dá o curso principal das primeiras ocupações dos espaços. Ali foram expulsos ou mesmo exterminados os índios tapuias, canindés, icós, janduins, cariris, piacus, cariús e jucás.

Para além disso, havia outras dezenas de povos indígenas que tiveram na beira do Jaguaribe o cenário de extermínio em várias batalhas da famosa e ingloriosa Guerra dos Bárbaros (1650-1720), o maior levante dos povos indígenas contra a colonização do sertão nordeste do Brasil.

Cerca de quatro séculos após o extermínio, colonização e sucessivas ocupações econômicas (agricultura e pecuária), o rio que proporcionou a habitação civilizatória ainda é o mesmo que assegura o abastecimento. São dele os dois maiores açudes do Ceará, o Orós e o Castanhão, qua ainda levam água para toda a Região Metropolitana de Fortaleza evitando colapso no abastecimento, tamanha é a relevância do “rio das onças”. Em Saboeiro, a barragem construída nos Caldeirões, dentro do leito do Rio Jaguaribe, assegura o abastecimento de água da Terra do Galo.

Fonte: Blog de Limoeiro do Norte

SUB-BACIA - MUNICÍPIOS

1- ALTO JAGUARIBE - 24 Municípios - Icó, Iguatu, Orós, Quixelô, Acopiara, Jucás, Cariús, Catarina, Arneiroz, Tauá, Parambú, Aiuaba, SABOEIRO, Tarrafas, Campos Sales, Antonina do Norte, Salitre, Araripe, Potengi, Assaré, Santana do Cariri, Nova Olinda, Altaneira e Farias Brito .

2- MÉDIO JAGUARIBE, -13 Municípios - Tabuleiro do Norte, São João do Jaguaribe, Jaguaribara, Jaguaretama, Jaguaribe, Pereiro, Alto Santo, Potiretama, Iracema, Ererê, Milhã, Solonópoles, Dep. Irapuan Pinheiro.

3- BAIXO JAGUARIBE - 09 Municípios - Aracati, Fortim, Icapuí, Itaiçaba, Jaguaruana, Limoeiro do Norte, Palhano, Quixeré e Russas.

4- SUB-BACIA DO RIO SALGADO – 23 Municípios
Dividida em cinco microbacias

Microbacia I – Brejo Santo, Jardim, Jati, Penaforte e Porteiras;
Microbacia II – Abaiara, Aurora, Barro, Mauriti, e Milagres;
Microbacia III – Barbalha, Caririaçu, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha;
Micro-Bacia IV – Baixio, Icó, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e Umari;
Microbacia V – Cedro, Granjeiro, e Várzea Alegre.

5- Sub- Bacia do Rio BANABUIÚ- 12 Municípios - Boa Viagem, Banabuiu, Ibicuitinga, Madalena, Mombaça, Monsenhor Tabosa, Morada Nova, Pedra Branca, Piquet Carneiro,Quixadá, Quixeramobim, Senador Pompeu.

Afluentes Principais - Rio Salgado e Rio Banabuiú

Outros - Rio Cariús, Rio Sangue, Rio Palhano, Rio Jucá e Rio Conceição,

- Fontes: - http://portal.cogerh.com.br/

-http://www.ceara.gov.br

MEIO AMBIENTE E O RIO JAGUARIBE

A degradação ambiental do Rio Jaguaribe é um problema antigo, apesar de que há alguns anos o assunto venha sido discutido e tenha sido realizado projetos que trataram do problema e vem realizando ações a favor de diminuir a poluição e a degradação desse valioso recurso natural. Aqui em Saboeiro essa preocupação é recente. Só com o trabalho realizado por Antonieta, que esteve à frente da secretaria do Meio Ambiente e hoje está coordenando o departamento do Meio Ambiente, os cuidados com o Rio Jaguaribe estiveram em pauta de algumas discussões importantes, mas nada de muito substancial foi feito nesse sentido, porque a secretaria do meio ambiente aqui não dispõe de equipe e estrutura com suporte para um trabalho em maior porte.

Os principais problemas ambientais do Rio Jaguaribe em nosso município é o acúmulo de lixo às margens do rio, a destruição da mata ciliar, a erosão provocada pela retirada abusiva de areia e barro para a cosntrução de tijolos, a poluiçao através de esgotos e por agrotóxicos usado nas lavouras. Foram feitos levantamentos fotográficos em 2009 por Antonieta e membros da equipe da Secretaria de agricultura (antes o Meio Ambiente era um departamento da Secretaria de agricultura), e recentemente esteve em Saboeiro uma equipe do Ministério Público também fazendo um levantamento dos problemas ambientais do município, registrando inclusive em fotos.

Como o nome de Saboeiro deriva de uma plantação de sabonete (árvore nativa quase extinta no município), Antonieta idealizou e está pondo em prática um projeto de revitalização desta espécie nativa às margens do Rio Jaguaribe, já tendo sido distribuidas muitas mudas. O projeto foi divulgado através de um curso de Agentes Multiplicadores de Educação Ambiental, oferecido pela SEMACE, em 2009. Antonieta colheiu informações junto à população e localizou uma das raras árvores da espécie existentes, e coletou junto com a turma do curso, grande quantidade de sementes, que transformou em mudas.

É importante salientar que toda e qualquer ação voltada para a preservação do meio ambiente requer a participação popular, o empenho de todos. É dever de todos cuidar do seu habitat. O Rio Jaguaribe é a extensão da casa de todos nós. Rio é vida: água, saúde, trabalho e lazer. cada um tem que fazer sua parte.

O poder público municipal também tem que descruzar os braços. Cadê a Secretaria do Meio Ambiente, prefeito? Porque não funciona como deveria funcionar? Nem uma sede tem, nem equipe, nem recursos... Já estamos cansados de ver as coisas existirem só no papel.

Para fechar esta matéria, eis uma poesia sobre o Rio Jaguaribe, do escritor Demócrito Rocha, que me foi enviada por email por joana Darc Cândido. (Muito oportuna e muito bem vinda sua colaboração querida!)

Rio Jaguaribe- Demócrito Rocha

O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta
por onde escorre
e se perde
o sangue do Ceará.
O mar não se tinge de vermelho
porque o sangue do Ceará
é azul ...

Todo plasma
toda essa hemoglobina
na sístole dos invernos
vai perder-se no mar.

Há milênios... desde que se rompeu a túnica
das rochas na explosão dos cataclismos
ou na erosão secular do calcário
do gnaisse do quartzo da sílica natural ...

E a ruptura dos aneurismas dos açudes...
Quanto tempo perdido!

E o pobre doente — o Ceará — anemiado,
esquelético, pedinte e desnutrido —
a vasta rede capilar a queimar-se na soalheira —
é o gigante com a artéria aberta
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
morrendo e resistindo...

(Foi a espada de um Deus que te feriu
a carótida
a ti — Fênix do Brasil.)

E o teu cérebro ainda pensa
e o teu coração ainda pulsa
e o teu pulmão ainda respira
e o teu braço ainda constrói
e o teu pé ainda emigra
e ainda povoa.

As células mirradas do Ceará
quando o céu lhe dá a injeção de soro
dos aguaceiros —
as células mirradas do Ceará
intumescem o protoplasma
(como os seus capulhos de algodão)
e nucleiam-se de verde
— é a cromatina dos roçados no sertão...

(Ah, se ele alcançasse um coágulo de rocha!)

E o sangue a correr pela artéria do rio Jaguaribe...
o sangue a correr
mal que é chegado aos ventrículos das nascentes ...
o sangue a correr e ninguém o estanca...

Homens da pátria — ouvi:

— Salvai o Ceará!

Quem é o presidente da República?

Depressa
uma pinça hemostática em Orós!

Homens —
o Ceará está morrendo, está
esvaindo-se em sangue ...

Ninguém o escuta,
ninguém o escuta
e o gigante dobra a cabeça sobre o peito enorme,
e o gigante curva os joelhos no pó da terra calcinada,
e — nos últimos arrancos — vai morrendo e resistindo
morrendo e resistindo
morrendo e resistindo

(fotos do Rio Jaguaribe em Saboeiro em Breve)