Marina anuncia apoio ao candidato Aécio Neves (Marcos Alves/Agência o Globo) |
Na manhã deste domingo, a candidata Marina Silva (PSB), que chegou em
terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais de 2014 com
cerca de 20 milhões de votos, anunciou seu apoio "como cidadã" a Aécio
Neves (PSDB), na disputa do segundo turno.
Apesar do suspense, a decisão de Marina, declarada em entrevista
coletiva realizada em São Paulo, era aguardada. Para a ex-ministra,
repetir a estratégica de neutralidade de 2010 traria riscos claros, uma
vez que a candidata saiu do primeito turno sem conseguir conquistar um
contingente de eleitores muito maior do que aquele que já trouxe para a
disputa. Manter-se isolada poderia reduzir seu cacife político a partir
de agora. "Prefiro ser criticada por aquilo que acredito ser melhor para
o Brasil do que me tornar prisioneira do labirinto dos meus interesses
próprios”, disse ela. Para o candidato tucano, que, segundo as pesquisas
divulgadas na semana passada, já absorveu cerca de 60% dos votos de
Marina, o apoio explícito deve ajudar a ampliar esse percentual ou
evitar a debandada de marineiros convictos.
Processo de decisão - Carta enviada por Aécio Neves
nesse sábado teve papel fundamental na decisão de Marina. Ela fez
questão de ressaltar que interpretou a carta não como tentativa de
atrair seu apoio, mas sim como "carta-compromisso endereçada ao povo
brasileiro". “Aécio corretamente interpretou o que está acontecendo no
Brasil nas últimas décadas. Ele qualificou essa busca por mudanças com
novas propostas, mas se comprometeu em manter as conquistas”, disse
Marina após declarar seu apoio.
Na carta, Aécio se comprometeu em atribuir ao Executivo as decisões
sobre remarcação de terras indígenas, que hoje estão sob a tutela do
Congresso. Esse foi um dos principais pontos da carta com as exigências
programáticas enviada por Marina a Aécio na última quinta-feira. O
tucano também concordou em promover políticas públicas para fortalecer o
país no mercado de emissões de carbono e promover a reforma política.
Ela citou ainda pontos fundamentais de aproximação entre a plataforma
tucana e a que ela defende, como questões macroeconômicas, educação e
transformação do Bolsa Familia "em direito e não em favor do estado".
Ela voltou a demonstrar que os ataques da campanha petista deixaram
marcas profundas.
Durante o anúncio, Marina mostrou dominar as técnicas do suspense.
Ela caprichou no 'marinês' e conseguiu encaixar até uma citação ao
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, cujos livros a acompanharam na
campanha presidencial.
Marina comentou também a demora de uma semana para declarar seu
apoio, interpretada por aliados e tucanos como uma longa demora capaz de
comprometer o peso político de seu posicionamento nessas eleições. “Uma
semana não é um longo tempo para um processo de tomada de decisão de
uma candidatura que ficou em terceiro lugar”, disse. Aliados do
candidato tucano afirmam que ele esperou pacientemente pela resposta de
Marina. A paciência foi atribuída por alguns, em tom de brincadeira, ao
fato de Aécio ser mineiro.
Apoios partidários - Na semana passada, o PSB,
partido sexagenário que acolheu a candidatura de Marina depois da morte
de seu líder Eduardo Campos, já havia aderido à campanha do candidato
tucano, embora tenha dado liberdade para seus governadores e diretórios
no Norte e Nordeste, historicamente alinhados com o PT, apoiarem Dilma.
É o caso, por exemplo, da Paraíba, Bahia e Amapá. Neste sábado,
militantes dissidentes do PSB participaram de ato político pró-Dilma em
Contagem (MG), numa tentativa do PT de mostrar falta de unidade no apoio
a Aécio em seu Estado natal, Minas Gerais.
Na entrevista coletiva deste domingo, Marina lembrou ainda que seu
partido, a Rede Sustentabilidade, cujo registro ainda está
pendente, liberou seus filiados para o voto branco, nulo ou em Aécio
Neves, excluindo apenas o apoio à presidente Dilma Rousseff (PT).
Carta de Renata Campos - Assim como aconteceu quando
Marina foi alçada à cabeça de chapa da coligação liderada pelo PSB,
após a morte Campos, a ex-candidata só se pronunciou publicamente após
posicionamento da família do ex-governador de Pernambuco. Neste sábado, a
viúva Renata Campos recebeu Aécio para almoço em sua casa no Recife. No
mesmo dia, João Campos, primogênito e apontado como herdeiro político
do pai, leu carta assinada por Renata em apoio ao tucano. “Daqui você
vai levar a garra e a energia desse povo”, disse Renata na carta.
O documento também ressaltou a ligação política de Tancredo Neves e
Miguel Arraes, avôs de Aécio e Eduardo, respectivamente. “Sei que não é a
primeira vez que seu caminho cruza com o de Eduardo. Lembro que, lá
trás, em momentos importantes da história, o caminho do seu avô Tancredo
cruzou com o de Dr. Arraes. Sei que também eram diferentes, mas
souberam se unir pelo bem do Brasil. Em vários momentos, quando era
necessário, você e Eduardo sabiam sentar e dialogar, encontrar
caminhos”.
PT - Em evento de campanha em um bairro da capital
paulista, a candidata petista Dilma Rousseff negou que seu partido tenha
fracassado em atrair o apoio de Marina e do PSB nacional: “Nós não
falhamos. Eles tinham outro alinhamento”, disse. “Vários seguidores da
Marina vieram para a minha campanha, como o governador da
Paraíba Ricardo Coutinho”
Fonte: Veja
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