segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Projeção de cinema do antigo mercado público de Saboeiro: uma experiência narrada pela jornalista Suzete Nocrato

Se existe uma coisa que sinto saudade em minha cidade é do antigo mercado público. Se fechar os olhos parece que vejo as lojas e mercearias, o velho portão central que dava acesso à parte interna, onde antes acontecia as chamadas "tertúlias" e, até sessões de cinema. Ontem, vasculhando imagens relacionadas a Saboeiro no google, me deparei com uma foto da jornalista Suzete Nocrato nos Caldeirões, e visualizando a página da imagem, me deparei com um blog maravilhoso, intitulado "Joana Darc nunca Mais". Passei cerca de uma hora lendo e relendo diversos textos da Suzete, impressionada com o estilo, com as lembranças que a agradável leitura me trazia, com a poesia contida nas narrativas ligadas à cidade, à família...

Escolhi um desses textos maravilhosos para compartilhar com vocês, onde a jornalista, e porque não dizer poeta, narra a primeira projeção de cinema de Saboeiro, realizada no referido mercado.

No Escurinho do Mercado

"Noite de domingo. Missa rezada e a criançada se reuniu no espaço aberto do mercado público. Cada uma levando sua cadeira de couro e tamboretes. A aflição era grande. Pela primeira vez na história da cidade seria apresentado um filme. A menina Joana, de sete anos, virou para o vizinho de lugar, Ludogênio, de oito, e disparou a pergunta: “o que é mesmo que o padre vai mostrar?”. Ninguém sabia. Nos anos 70 do século passado em Saboeiro não tinha televisão e muito menos cinema. O único meio de comunicação era o rádio. As peças de teatro, adaptadas por algumas professoras mais letradas, recebiam o nome de drama. Ah, isso é uma outra história. 

Minutos de expectativas e lá vem aquele homem de dois metros de altura, fala grossa. As mãos imensas, que pareciam querer abarcar o mundo, seguravam um rolo preto e alguma peça que, na época, não consegui identificar. Era o projetor. O padre holandês Geraldo Slag, que estava na cidade há quase 20 anos, fez uma preleção sobre o filme e o cinema. Ninguém prestava a atenção. Todos queriam ver o que apareceria naquele lençol branco. As luzes são apagadas. Começa a música. As crianças menores se assustam, enquanto os “metidos a entendidos”, aí me incluo, tentavam demonstrar tranqüilidade. Aparecem as primeiras imagens. Vicente Celestino, no papel de Gilberto, sofre desde o primeiro take. A platéia se emociona com o jovem que perambula pelas ruas da cidade grande, perde a mulher e se entrega à bebida. 

As crianças sofriam muito mais com os problemas na projeção. Parada a cada dez minutos para consertar o projetor.Era uma tortura acompanhar o desenrolar do enredo em preto e branco. E nada de reclamação. Xingar, nem pensar. O olhar ameaçador do padre intimidava qualquer reação. Para desespero dos espectadores, a fita quebrou no finalzinho da história. Aborrecido, padre Geraldo bobinou a fita, desligou o projetor e saiu, altivo, carregando as nossas ilusões. Foi a primeira e última sessão de cinema no mercado público de Saboeiro. Saímos sem saber se Gilberto teria se libertado da vagabundagem e se tornado um grande cantor. 

O filme “O Ébrio”, de Vicente Celestino, lançado em 1946, foi a minha primeira experiência no cinema. Diga-se, de passagem, frustrante."

Soltando o Verbo

Há mais de 20 anos o mercado foi destruído para construir as ruínas de  um centro administrativo jamais acabado. O centro da cidade ficou feio com o esqueleto da obra não terminada, e a cidade perdeu uma parte importante de seu patrimônio histórico: a mercearia do saudoso finado Dário que virou depois a sapataria do Francisco Mamédio, a mercearia da dona Eunice,  a mercearia do Zé Militão, que sempre ficava aberta a noite e a gente ia comprar bala quando íamos à missa aos domingos, e todas as outras casas comerciais que ajudaram a erguer construir não só a economia do município naquela época, mas que faziam parte da vida dos seus clientes. Aos sábados (dia de feira), o comércio estava sempre cheio de gente.  Que saudade!!!

Gostaria muito de ver fotos do prédio antes de ser demolido!! 

Um comentário:

  1. Tenho uma recordação muito boa do antigo prédio do mercado municipal principalmente da loja de tecido do sr Edmundo Olinda e da loja de sua irmã Bela Olinda. Fui longe agora , não fui? quem lembra? Bons tempos vesti muito vestido destas duas lojas! Saudades de uma pessoa que trabalhava com Edmundo Olinda Osmarina, nunca mais soube dela, se alguém souber desta pessoa gostaria de saber. Por favor.

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