O descaso do Governo
Federal poderá fechar as portas da maior unidade de preservação do Bioma
Caatinga do mundo!
Instituída no ano de 1978, quando
foi declarada de utilidade pública pelo Decreto 81.218, de 16 de janeiro de
1978, tendo sido criada pelo Decreto de 6 de fevereiro de 2001, com uma área de
11.525,3 hectares de mata nativa do Bioma Caatinga do Nordeste Brasileiro, a
Estação Ecológica de Aiuaba –ESEC, no Sertão dos Inhamuns, poderá parar as
atividades devido o descaso do Governo Federal, que não está destinando
recursos para a manutenção deste importante órgão ambiental.
A ESEC perfaz um perímetro de
aproximadamente 72,11 km, está inserida integralmente dentro do município de
Aiuaba. Foi criada com o objetivo de proteger o Bioma Caatinga, propiciar a
pesquisa científica e desenvolver programas de educação ambiental. Assume uma
grande importância ecológica por ser a maior de conservação do Bioma Caatinga
coberta integralmente com floresta de Caatinga-Arbórea, exercendo influência na
manutenção da biodiversidade florística e faunística desse bioma, além de
representar um importante papel no ciclo hidrológico da região, devido a sua
cobertura florestal densa. A ESEC atrai estudantes e pesquisadores de várias
universidades do país e do exterior. O órgão realiza atividades de educação e
proteção ambiental, como: prevenção e combate a incêndios florestais, produção
de mudas nativas para o reflorestamento da mata ciliar, arborização urbana e
equilíbrio de ecossistemas, bem como promove o voluntariado.
A Estação possui boa
infraestrutura, com sede contendo 03 casas funcionais, 04 alojamentos, cozinha,
refeitório, auditório, escritórios, biblioteca, laboratório, banheiros e
garagem. Dispõe ainda de duas bases de apoio, nos sítios Gameleira e cajueiro.
Porém, a falta de recursos tem impossibilitado o desenvolvimento das
atividades.
De acordo com o técnico
administrativo da ESEC, e responsável pela mesma, Honório Miguel Arraes, a
situação é crítica. Ele enfatiza que a instituição está passando por diversos
problemas, sendo o principal a ausência de repasses do Governo Federal. Honório
afirma que assumiu a responsabilidade pela Estação há três anos, e que nesse
período não foi destinado nenhum valor oriundo do Governo Federal para
manutenção e funcionamento do órgão ambiental, além de um pequeno recurso,
através do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, destinado exclusivamente
para o abastecimento dos carros, e mesmo assim, a cota é muito reduzida,
insuficiente para realizar o trabalho de fiscalização constante em todo o
entorno da Estação. “Antes mandavam R$ 500,00 (quinhentos reais), hoje está
vindo apenas R$ 200,00 (duzentos reais). E isso é tudo que estamos recebendo do
Governo para o combustível, e mais nada. É uma situação que considero
aberrante, se considerarmos o tamanho da área que temos que percorrer pra
realizar uma fiscalização eficaz, os veículos que temos e o preço dos combustíveis”,
disse, complementando que falta recursos até mesmo para a compra de material de
limpeza e para mandar lavar roupas de cama, mesa e banho, despesa que tem
custeado do próprio bolso, lembrando que a ESEC recebe constantemente
visitantes e pesquisadores que ocupam os alojamentos e merecem usufruir do
mínimo de conforto.
Arraes aponta ainda outros
fatores que comprometem o funcionamento da Estação, dentre eles a pouca
quantidade de funcionários. O posto de apoio do Sítio Gameleira, distante 42 km
da sede da instituição, conforme aponta o responsável, foi desativado há dois
anos, e está sem vigilante. Isso tem trago preocupações porque a casa da base
de apoio fechada tem possibilitado a invasão de caçadores, que agem
criminalmente matando de maneira indiscriminada muitas aves, além de invasores
que adentram na estação para roubar madeira. A presença do vigilante inibia
essas ações.
A pouca quantidade de funcionários
também inibe o trabalho da Estação Ecológica. Para fiscalizar toda a área de
mais de onze mil hectares da mesma, só há dois funcionários do Instituto Chico
Mendes- ICMBio, explica Honório, identificando ele mesmo e outro colega
auxiliar. “A destruição da fauna e da flora dentro da ESEC tem sido constante.
Isso nos entristece, porque estamos lutando, colocando recursos do próprio
bolso para fazer o mínimo possível. A Caatinga para nós é vida, é a alma do
nosso sertão. E a gente vê nas grandes mídias o Governo discursar sobre a
importância do meio ambiente, e na prática a realidade é diferente. O que temos
visto? Desastres ambientais de grande proporção e impacto na vida futura, e
descasos como este que estamos vivendo aqui em Aiuaba. Ou será que o sertão não
é também Brasil?” desabafa Honório.
Arraes ainda explica que,
atualmente, estão em andamento 25 pesquisas na Estação, envolvendo diversas
universidades, e que os pesquisadores têm medo de realizar seus estudos na base
abandonada da Gameleira, que fica á margem da Rodovia da Confiança, onde
costuma haver muitos assaltos, tendo sido furtado uma vez até a moto do
vigilante que lá trabalhava. Além disso, os pesquisadores têm medo de serem
surpreendidos por caçadores e por aqueles que entram para roubar madeira.
“Principalmente as mulheres pesquisadoras se sentem inseguras lá”, observou ele. O técnico do ICMBio pontuou que
esses caçadores e lenhadores ilegais vêm, na maioria, de municípios vizinhos a
Aiuaba, por isso, dentre as ações educativas da ESEC, está um trabalho de
conscientização regional, para tentar inibir esse tipo de crime. “Dentre os animais
da fauna do bioma que vêm sendo abatidos
ou capturados, estão: avoantes, tatu, peba, veado e o jacu, ave que está em
processo de extinção, mas está se reproduzindo no entorno da Estação”,
informou.
Honório está preocupado com o
início período de reprodução das avoantes, que começa a partir do dia 15 de
março, época em que atrai caçadores também dos Estados de Piuaí e Pernambuco. A
quantidade insuficiente de combustível e de fiscais, facilita a caça da
espécie. Seria preciso, de acordo com ele, a contratação de pelo menos, mais
quatro vigilantes pelo ICMBio, órgão federal responsável pelo pagamento dos
funcionários de todas as unidades de conservação no país.
Para Honório, mesmo a
responsabilidade sendo exclusivamente do Governo Federal, que se encontra
completamente insensível aos problemas da Estação ecológica de Aiuaba, há
também uma insensibilidade por parte dos Governos Estadual e Municipal, em
pleitear, junto ao Governo Federal, a solução desses problemas e a liberação de
recursos para que a estação possa continuar seu importante trabalho em prol do
Bioma caatinga, do Meio Ambiente como um todo, da Ciência e das futuras
gerações.
O secretário Executivo do Pacto
Ambiental da região dos Inhamuns, Jorge de Moura, afirma que vê com bastante
preocupação a situação de abandono da estação Ecológica de Aiuaba, o que
reflete na falta de compromisso do Governo Federal com o seu patrimônio. “O
Pacto irá neste sentido, se mobilizar em busca de apoio da mídia, para mostrar
a situação da Estação Ecológica, que hoje é o retrato das estações de todo o
Brasil. Ficamos profundamente revoltados com esse descaso, o que mostra de, de
fato, o Governo não tem um compromisso com o meio ambiente. É inadmissível que
servidores do ICMBio tenham que custear do próprio bolso despesas com a estação
para mantê-la funcionando. Vamos também mobilizar a população de Aiuaba, para
que possamos fazer uma audiência pública com participação de toda a sociedade,
lideranças, ambientalistas e representantes de todas as mídias, para formalizarmos
o apelo ao Governo Federal e informarmos toda a população brasileira da
situação de abandono em que se encontra a Estação Ecológica, bem como a sua
importância pra a região e os meios científicos de todo o mundo”, finalizou
Moura.
A ambientalista Benilda Calixto,
afirmou que a Estação Ecológica de Aiuaba é um dos maiores patrimônios do
Nordeste, e hoje está sendo relegada ao abandono. “A população de Aiuaba está
revoltada. Estão destruindo o nosso pulmão verde, e infelizmente, os poucos
servidores que atuam na Estação não têm como evitar a ação de caçadores e a
retirada ilegal de madeira. É uma piada manter apenas dois agentes para
fiscalizar uma área tão extensa. Precisamos mobilizar toda a sociedade de
Aiuaba e região, para darmos as mãos nessa luta, chamar atenção dos políticos e
governantes para o bem ambiental e humano que está se perdendo. Não podemos
deixar que a estação feche as portas. Seria como fechar as portas da vida desse
bioma, do conhecimento, da esperança de um futuro melhor, da descoberta
científica de meios de melhorar a vida do sertanejo, da consciência ambiental”,
acrescentou Calixto.