sexta-feira, 4 de março de 2016

Estação Ecológica de Aiuaba Pede Socorro!


O descaso do Governo Federal poderá fechar as portas da maior unidade de preservação do Bioma Caatinga do mundo!

Instituída no ano de 1978, quando foi declarada de utilidade pública pelo Decreto 81.218, de 16 de janeiro de 1978, tendo sido criada pelo Decreto de 6 de fevereiro de 2001, com uma área de 11.525,3 hectares de mata nativa do Bioma Caatinga do Nordeste Brasileiro, a Estação Ecológica de Aiuaba –ESEC, no Sertão dos Inhamuns, poderá parar as atividades devido o descaso do Governo Federal, que não está destinando recursos para a manutenção deste importante órgão ambiental.

A ESEC perfaz um perímetro de aproximadamente 72,11 km, está inserida integralmente dentro do município de Aiuaba. Foi criada com o objetivo de proteger o Bioma Caatinga, propiciar a pesquisa científica e desenvolver programas de educação ambiental. Assume uma grande importância ecológica por ser a maior de conservação do Bioma Caatinga coberta integralmente com floresta de Caatinga-Arbórea, exercendo influência na manutenção da biodiversidade florística e faunística desse bioma, além de representar um importante papel no ciclo hidrológico da região, devido a sua cobertura florestal densa. A ESEC atrai estudantes e pesquisadores de várias universidades do país e do exterior. O órgão realiza atividades de educação e proteção ambiental, como: prevenção e combate a incêndios florestais, produção de mudas nativas para o reflorestamento da mata ciliar, arborização urbana e equilíbrio de ecossistemas, bem como promove o voluntariado.

A Estação possui boa infraestrutura, com sede contendo 03 casas funcionais, 04 alojamentos, cozinha, refeitório, auditório, escritórios, biblioteca, laboratório, banheiros e garagem. Dispõe ainda de duas bases de apoio, nos sítios Gameleira e cajueiro. Porém, a falta de recursos tem impossibilitado o desenvolvimento das atividades.

De acordo com o técnico administrativo da ESEC, e responsável pela mesma, Honório Miguel Arraes, a situação é crítica. Ele enfatiza que a instituição está passando por diversos problemas, sendo o principal a ausência de repasses do Governo Federal. Honório afirma que assumiu a responsabilidade pela Estação há três anos, e que nesse período não foi destinado nenhum valor oriundo do Governo Federal para manutenção e funcionamento do órgão ambiental, além de um pequeno recurso, através do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, destinado exclusivamente para o abastecimento dos carros, e mesmo assim, a cota é muito reduzida, insuficiente para realizar o trabalho de fiscalização constante em todo o entorno da Estação. “Antes mandavam R$ 500,00 (quinhentos reais), hoje está vindo apenas R$ 200,00 (duzentos reais). E isso é tudo que estamos recebendo do Governo para o combustível, e mais nada. É uma situação que considero aberrante, se considerarmos o tamanho da área que temos que percorrer pra realizar uma fiscalização eficaz, os veículos que temos e o preço dos combustíveis”, disse, complementando que falta recursos até mesmo para a compra de material de limpeza e para mandar lavar roupas de cama, mesa e banho, despesa que tem custeado do próprio bolso, lembrando que a ESEC recebe constantemente visitantes e pesquisadores que ocupam os alojamentos e merecem usufruir do mínimo de conforto.

Arraes aponta ainda outros fatores que comprometem o funcionamento da Estação, dentre eles a pouca quantidade de funcionários. O posto de apoio do Sítio Gameleira, distante 42 km da sede da instituição, conforme aponta o responsável, foi desativado há dois anos, e está sem vigilante. Isso tem trago preocupações porque a casa da base de apoio fechada tem possibilitado a invasão de caçadores, que agem criminalmente matando de maneira indiscriminada muitas aves, além de invasores que adentram na estação para roubar madeira. A presença do vigilante inibia essas ações.

A pouca quantidade de funcionários também inibe o trabalho da Estação Ecológica. Para fiscalizar toda a área de mais de onze mil hectares da mesma, só há dois funcionários do Instituto Chico Mendes- ICMBio, explica Honório, identificando ele mesmo e outro colega auxiliar. “A destruição da fauna e da flora dentro da ESEC tem sido constante. Isso nos entristece, porque estamos lutando, colocando recursos do próprio bolso para fazer o mínimo possível. A Caatinga para nós é vida, é a alma do nosso sertão. E a gente vê nas grandes mídias o Governo discursar sobre a importância do meio ambiente, e na prática a realidade é diferente. O que temos visto? Desastres ambientais de grande proporção e impacto na vida futura, e descasos como este que estamos vivendo aqui em Aiuaba. Ou será que o sertão não é também Brasil?” desabafa Honório.

Arraes ainda explica que, atualmente, estão em andamento 25 pesquisas na Estação, envolvendo diversas universidades, e que os pesquisadores têm medo de realizar seus estudos na base abandonada da Gameleira, que fica á margem da Rodovia da Confiança, onde costuma haver muitos assaltos, tendo sido furtado uma vez até a moto do vigilante que lá trabalhava. Além disso, os pesquisadores têm medo de serem surpreendidos por caçadores e por aqueles que entram para roubar madeira. “Principalmente as mulheres pesquisadoras se sentem inseguras lá”,  observou ele. O técnico do ICMBio pontuou que esses caçadores e lenhadores ilegais vêm, na maioria, de municípios vizinhos a Aiuaba, por isso, dentre as ações educativas da ESEC, está um trabalho de conscientização regional, para tentar inibir esse tipo de crime. “Dentre os animais da fauna do bioma  que vêm sendo abatidos ou capturados, estão: avoantes, tatu, peba, veado e o jacu, ave que está em processo de extinção, mas está se reproduzindo no entorno da Estação”, informou.

Honório está preocupado com o início período de reprodução das avoantes, que começa a partir do dia 15 de março, época em que atrai caçadores também dos Estados de Piuaí e Pernambuco. A quantidade insuficiente de combustível e de fiscais, facilita a caça da espécie. Seria preciso, de acordo com ele, a contratação de pelo menos, mais quatro vigilantes pelo ICMBio, órgão federal responsável pelo pagamento dos funcionários de todas as unidades de conservação no país.

Para Honório, mesmo a responsabilidade sendo exclusivamente do Governo Federal, que se encontra completamente insensível aos problemas da Estação ecológica de Aiuaba, há também uma insensibilidade por parte dos Governos Estadual e Municipal, em pleitear, junto ao Governo Federal, a solução desses problemas e a liberação de recursos para que a estação possa continuar seu importante trabalho em prol do Bioma caatinga, do Meio Ambiente como um todo, da Ciência e das futuras gerações.

O secretário Executivo do Pacto Ambiental da região dos Inhamuns, Jorge de Moura, afirma que vê com bastante preocupação a situação de abandono da estação Ecológica de Aiuaba, o que reflete na falta de compromisso do Governo Federal com o seu patrimônio. “O Pacto irá neste sentido, se mobilizar em busca de apoio da mídia, para mostrar a situação da Estação Ecológica, que hoje é o retrato das estações de todo o Brasil. Ficamos profundamente revoltados com esse descaso, o que mostra de, de fato, o Governo não tem um compromisso com o meio ambiente. É inadmissível que servidores do ICMBio tenham que custear do próprio bolso despesas com a estação para mantê-la funcionando. Vamos também mobilizar a população de Aiuaba, para que possamos fazer uma audiência pública com participação de toda a sociedade, lideranças, ambientalistas e representantes de todas as mídias, para formalizarmos o apelo ao Governo Federal e informarmos toda a população brasileira da situação de abandono em que se encontra a Estação Ecológica, bem como a sua importância pra a região e os meios científicos de todo o mundo”, finalizou Moura.

A ambientalista Benilda Calixto, afirmou que a Estação Ecológica de Aiuaba é um dos maiores patrimônios do Nordeste, e hoje está sendo relegada ao abandono. “A população de Aiuaba está revoltada. Estão destruindo o nosso pulmão verde, e infelizmente, os poucos servidores que atuam na Estação não têm como evitar a ação de caçadores e a retirada ilegal de madeira. É uma piada manter apenas dois agentes para fiscalizar uma área tão extensa. Precisamos mobilizar toda a sociedade de Aiuaba e região, para darmos as mãos nessa luta, chamar atenção dos políticos e governantes para o bem ambiental e humano que está se perdendo. Não podemos deixar que a estação feche as portas. Seria como fechar as portas da vida desse bioma, do conhecimento, da esperança de um futuro melhor, da descoberta científica de meios de melhorar a vida do sertanejo, da consciência ambiental”, acrescentou Calixto.

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