quinta-feira, 20 de outubro de 2011

César Leal, ilustre poeta brasileiro, filho de Saboeiro

Sempre defendi que os currículos escolares deviam estar impregnados dos conhecimentos locais. Um dos maiores nomes da poesia mundial é filho de Saboeiro, e certamente seu nome nunca foi mencionado nas escolas daqui. Falo de César Leal, cuja poesia é considerada a mais rigorosa de nossa literatura, o qual as lembranças da infância e adolescência nas terras do Belmonte, aqui na "Terra do Galo", se transformaram numa poesia rica em forma e conteúdo, um homem cuja simplicidade me enche de encanto.

César Leal é uma biblioteca cultural viva, em cuja lucidez dos seus 87 anos de idade, carrega consigo a lembrança de um passado de glória de nossa querida Saboeiro, que há anos atrás já foi um dos berços mais ricos do nosso Ceará, onde também havia prosperidade e recursos que o tempo e os homens fizeram desaparecer junto com as ruínas do Belmonte, ocasionando um retrocesso material e cultural incalculáveis, que traçou para sempre os rumos do que poderia ter se tornado Saboeiro, e assim, porque não dizer, mudando também os destinos dos filhos desta cidade, que silenciaram diante dos acontecimentos e de fatos que nunca se quer chegaram a imaginar, porque a história se calou e se tornou um fantasma na pequena e hoje "pobre", Saboeiro.

Conhecendo César leal

CÉSAR LEAL, poeta e crítico de poesia, jornalista e Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, nasceu na fazenda Belmonte, município de Saboeiro, Sertão dos Inhamuns (CE), em 20 de março de 1924, filho de Manuel Fernandes Leal e Francisca César Braga Leal, do clã dos carcarás (Fernandes Vieira-Costa Braga), família cujos chefes eram o coronel Costa Braga, de Cachoeira, e seu genro, Francisco Fernandes Vieira, visconde do Icó.

César Leal era o primogênito de quatro irmãos: Astrogildo, fazendeiro em Fátima do Sul (MS), com 86 anos; Patrocínia e Laismar, ambas falecidas. Dividiu sua infância entre as fazendas Belmonte e Cachoeira. De Belmonte, ele nos dá em seu livro de estreia - Invenções da noite menor - uma visão fenomenológica perfeita, nas três primeiras composições dos “ Quatro poemas rurais”. O objetivo deste site é estimular o usuário da Internet a encontrar, em sua navegação, os valores que fazem da poesia de César Leal, por sua carga simbólica e metafórica, carregada de energia expressiva, os elementos de uma estratégia poética, que o torna um dos poetas brasileiros contemporâneos mais comentados pela crítica especializada do pais e do exterior. (Extraído da biografia no site do poeta)

Um mergulho na História: Belmonte, Visconde do Icó e a patriarca família Carcarás de Saboeiro, tesouro vivo na mente do poeta César Leal

A mansão de Belmonte, cujas paredes tinham 80 centímetros de espessura, mesmo as interiores, foi edificada num planalto cortado abrutamente por uma escarpa formada à margem esquerda do Jaguaribe, situando-se a 200 metros de altura em relação ao leito do rio. Foi construída pelo Visconde do Icó, em 1832, para uma de suas seis filhas: Glória Fernandes Vieira Leal. Nela viveu seu filho, dr. José Gomes Fernandes Vieira Leal, até sua morte em 1928, aos 90 anos. De Belmonte se avistava, a seis quilômetros de distância, a fazenda Santo Antônio, residência do Visconde, em cuja frente se encontrava uma casa menor para hóspedes: pessoas da família ou colegas de seus filhos, nos cursos jurídicos de Olinda, onde cinco graduaram-se em Direito. Ele tinha doze filhos, mas dos seis homens somente um tornou-se, profissionalmente, fazendeiro.

Viviam com ele uma neta, além das seis filhas. Como se vê, eram 13 os membros da família do coronel Francisco Fernandes Vieira, quase todos nascidos na grande casa de Santo Antônio, às margem esquerda do Jaguaribe. Vivendo ali, ainda não era Visconde quando começou a investir na educação dos filhos, escolhendo para eles a formação em leis, com o objetivo de apoderar-se das instituições político-administrativas na capital. Conseguida essa meta, a partir do sertão, tornou-se um dos chefes políticos mais poderosos do Ceará, no século XIX. Seu filho, dr. Miguel Fernandes Vieira, ao graduar-se em Olinda, foi nomeado desembargador, chefe de polícia, senador, e proprietário de um jornal, alinhado ao Partido Conservador cujo presidente no Ceará era o Barão (1849) e, seis anos depois ( 1855), Visconde do Icó. Seu Irmão, Gonçalo Fernandes Vieira, Barão de Aquiraz, casou-se com uma de suas filhas, que faleceria poucos anos depois. O Barão de Aquiraz casou-se com a cunhada, tornando-se duas vezes genro do próprio irmão. Essa também faleceu. Em terceira núpcias, casou-se com a viúva de seu cunhado, senador Miguel Fernandes Vieira, que assim se tornara Baronesa de Aquiraz.

A endogenia familiar entre os integrantes do clã dos Carcarás era necessária para aumentar rapidamente a força demográfica da família, que unida podia enfrentar, pelas armas, o poder dos Feitosas, alargando seus domínios e edificando suas fazendas em torno do núcleo administrativo: a cidade de Saboeiro. O escritor Enéas Braga Fernandes Vieira, no prefácio que escreveu para o livro de Mileno Torres Bandeira, edição revista e comentada de 1996, Memórias de um passado, afirma: “ As famílias, que hoje formam os carcarás, descendem de bravos que chegaram a diversas partes do Sertão dos Inhamuns, onde já estavam os não menos bravos Feitosas”. (Extraído da biografia no site do poeta).

A Biografia do poeta no site www.cesarleal.com.br é uma das leituras mais gostosas que já fiz na vida, porque me deu a sensação real de de estar ali de figurante nos cenários que o autor descreve. Desde criança me fascinam as cenas dos viajantes do tempo, poder entrar no passado é a fantasia mais deliciosa que sempre me acompanhou. Desejei ser uma viajante do tempo cada vez que ouvia meus pais falar do saboeiro de antigamente, e experimentei de novo a sensação cada vez que converso com o poeta César Leal ao telefone, e cada vez que leio sua biografia.

César Leal aprendera a ler aos cincos anos de idade, sozinho, sem soletrar, em apenas uma semana, inspirado por aquele que até hoje é seu livro de cabeceira, "A Divina Comédia", cujas ilustrações foram as responsáveis pelo desejo do menino se tornar um homem letrado.

Quase chegando aos 88 anos de idade, o poeta conserva uma lucidez impressionante. Continua produzindo, e terminou recentemente uma obra, de acordo com informação do próprio poeta, numa conversa recente ao telefone comigo. Voltar a Saboeiro é para o poeta um desejo irrealizável, porque o mesmo luta com os quatro inimigos descritos em sua biografia: uma esquemia cardíaca que já o obrigou a fazer três angioplastias, uma cirurgia de revascularização do miocárdio, um câncer na próstata, que o faz passar atualmente por um tratamento que o deixa muito debilitado, além do peso da idade.

A morte prematura da mãe é a lembrança mais dolorida. César deixou Saboeiro aos 17 anos de idade. Seu desejo era ingressar nas Forças Armadas e lutar na guerra de 1942, mas foi considerado inapto pelo seu porte físico franzino. Logo, César ingressou num grupo de vinte jovens, que compunham o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), criado pelos governos dos Estados Unidos e do Brasil para dar assistência médica a dezenas de milhares de trabalhadores de todo o país, que iriam à Amazônia retirar látex das seringueiras para fabricação de borracha. Após fazer um curso de técnico de laboratório, na condição de membro do SESP, César migrou para Manaus, onde trabalhou num hospital por quatro anos.

Ainda em Manaus César já rabiscava alguns escritos, e suas experiências ali vividas o influenciaram muito em sua carreira. O poeta morou depois no Rio de Janeiro, e posteriormente em Belo Horizonte, onde aconteceu o famoso episódio do sonho com Pantaju, o cãozinho de sua infância.

O nascimento real do escritor

Um dos fatos narrados na biografia do autor que mais me fascinaram é sobre o primeiro poema, inspirado em Pantaju, o cachorrinho que ganhou quando tinha menos de dois anos, batizado por sua saudosa mãezinha. E quero aqui compartilhar com vocês esse fato: "Muitos anos depois, quando morava em Belo Horizonte, César Leal sonhou com um cãozinho que lhe havia sido presenteado por seu padrinho de batismo. “Eu ainda não havia completado dois anos de idade”, diz o poeta. Gostava muito do cachorro e sua mãe disse-lhe que ele devia chamar-se Point du jour (alvorecer, alvorada), pois nascera no instante em que o sol despontava no nascente. Mas, com apenas pouco mais de um ano, César só pronunciava Pantaju, pois estava na fase de aquisição da linguagem. O pai lembrou que a palavra era feminina, mas a mãe contra-argumentou que o cachorro seria chamado como o dono pronunciava o seu nome: Pantaju." (extraído da biografia do poeta em seu site).

Pantaju tinha sido um presente de seu padrinho de batismo, e vinte e seis anos depois acordar com a lembrança desse sonho, o poeta chorou, emocionado ao lembrar de algo que julgava inteiramente apagado em sua consciência, e Pantaju virou tema do poema que césar Leal escreveu imediante após esse despertar.

E Pantaju despertou o interesse de muita gente...

Anos depois, já no Recife, mostrou o poema a Francisco Brennand, que o ilustrou, fazendo também a capa. Gastão de Holanda e Orlando da Costa Ferreira, ambos ligados ao Gráfico Amador, que já quase não funcionava naquela época, diagramaram o livrinho. Ariano Suassuna, que ensinava Estética e Teatro na UFPE, gostou tanto do poema que, segundo disse a César Leal, havia feito encenações em subúrbios, onde o cachorro aparecia com orelhas abanando, sendo incluídas algumas palavras suas no livrinho. Grande surpresa foi verificar que o professor Odilon Nestor, com mais de 90 anos, encontrara razões para escrever no Diário de Pernambuco um belo artigo sobre o Pantaju. Logo após, Gilberto Freyre, escreveu um artigo na revista O Cruzeiro, em que afirmava “concordar com o Mestre Odilon Nestor, que Romance do Pantaju era ‘uma pequena obra-prima de ‘Invenção’ e de Arte”. Lygia Fagundes Telles, ao ler o poema, incluído no final de Constelações, confessou a César Leal, numa das reuniões do Conselho Federal de Cultura, em 1987, que havia chorado ao lê-lo, o que não era comum comover-se tanto diante de textos literários. Foram impressos 200 exemplares, assinados pelo autor e o ilustrador. (extraído do site de César Leal). Lendo sua biografia percebemos a forte relação de amizade de amizade e literária entre César leal e Ariano Suassuna, e também com Aloísio Guimarães, Tomas Seixas, Francisco Brennand, entre outros. Eles costumavam se reunir para falar da literatura de diversos países.

Em 1970, durante uma temporada nos Estados Unidos, César Leal tomou-se o primeiro poeta da língua portuguesa a gravar ao vivo muitos de seus poemas para a Biblioteca de Poesia da Universidade de Harvard. Isso nos dá uma vaga noção do prestígio do nobre saboeirense.

Aécia Leal- Matéria produzida para o Portal Mais Saboeiro

Leia a biografia de César Leal na íntegra: www.cesarleal.com.br


Soltando o Verbo

Fica aqui a sugestão para que a partir de 2012, as escolas do município explorem a obra dos autores da terra, e que sejam criados projetos para o resgate da história de Saboeiro.

Um comentário:

  1. Como a nossa cidade é rica de pessoas importante... e como essas pessoas fazem falta a nossa terra na parte intelectual e de desenvolvimento

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