quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Desembargadora Edite Bringel Olinda foi a personalidade em destaque na 5ª edição do Folha Semanal

Essa notável mulher saboeirense é uma das maiores personalidades do Estado do Ceará, e foi destaque na 5ª edição do jornal Folha Semanal. Filha da não menos notável Professora Dáulia Bringel Olinda, e do saudoso Edmundo Olinda, Edite Bringel Olinda é desembargadora, e tem uma história de vida repleta de conquistas e boas lembranças da infância na pequena Saboeiro, sua terra natal. Bem nascida no seio de uma família numerosa, de pessoas do bem e vencedores nas mais diversas áreas, nossa personalidade revela a Saboeiro um pouco da sua biografia.

Desa. Edite Bringel Olinda, na sua posse no STJ

SABOEIRO, meu nascimento e infância.

Por que Saboeiro?  Minha mãe – Dáulia Bringel Olinda, ao concluir seu curso normal no Colégio Santa Teresa do Crato, resolveu ensinar nas Escolas Reunidas de Saboeiro. Solteira, casou com meu pai – Edmundo Olinda Cavalcante. Praticamente vivi na Escola, porque minha mãe costumava levar-me, mesmo sem maternal ou jardim (esses cursos não existiam naquela época). É, assim, um privilégio ser filho ou filha de professora. Nesta pequena escola fiz o curso primário, as quatro séries. Num bom sentido, a cidade me expulsou. Era só o que oferecia em matéria de estudo. Por outro lado, gratificou-me com uma infância muito rica. Tomar banho de chuva no meio da rua naquelas bicas de jacaré, correndo e passando por todas as outras na rua de baixo (Visconde do Icó), com meus irmãos e outros companheiros infantis também rindo, correndo, celebrando tudo, a chuva, a brincadeira, a bem-querença. Fazia açudes na rua de baixo e a água vinda da rua de cima arrombava os açudes e com os amigos fazíamos outro e outros até a chuva passar. Era uma festa!As brincadeiras de roda no patamar da igreja de Nossa Senhora da Purificação. Não tinha o cruzeiro na época e o patamar era enorme. Lembro ainda da cantoria: “Eu sou pobre,...pobre...pobre de maré, maré, maré...”; “ atirei o pau no gato tótó, mas o gato tótó não morreu, reu, reu,”e mais. E o banho no rio Jaguaribe! Que delícia que era! Os jogos de bola no meio da rua. As brincadeiras com meus irmãos em casa, respeitada a hora de estudar, fazer os deveres da escola, isso era sagrado. Minha mãe cobrava mesmo e fiscalizava. Não tinha desculpa. Tolerância zero.

IGUATU
Aos dez anos de idade fui prestar o exame de admissão no Colégio São José, dirigido pelas religiosas Filhas de Santa Teresa. Os colégios da época ou eramfemininos ou masculinos. Isso mesmo. Consegui aprovação.  Meus pais levaram-me para o colégio onde ficaria interna. Quando me entregaram às freiras, ainda hoje a saudade dói, a separação foi muito difícil. Minha mãe chorou durante toda a sua viagem de volta, foi tanta lágrima que o meu pai perguntou se ela queria voltar para buscar-me. – Não, nem que eu morra de saudade.
Neste colégio permaneci quatro anos, o curso ginasial, do primeiro ao quarto.(Hoje, lamento, o meu colégio não existe mais). Alegrava-me com a chegada das férias, em Saboeiro. Na época, os meios de transporte eram difíceis, a estrada não tinha asfalto, de sorte que Iguatu se tornava longe. Contudo, não havia outra maneira de estudar. Muito duro! Eu era bem pequena e muito apegada aos meus pais. Terminado o curso ginasial, também tive de deixar Iguatu. A cidade não me oferecia mais que isso.

FORTALEZA
Colégio da Imaculada Conceição. Feminino e também dirigido por freiras, irmãs de caridade. Estava matriculada no primeiro ano do curso clássico e também fiquei interna. Pra mim, não havia outra forma de estudar. Assim permaneci por dois anos e meio, até o último semestre do terceiro ano clássico. Daí, passei a residir num pensionato de freiras, da mesma congregação religiosa de Iguatu, as Irmãs de Santa Teresa. Fiz o vestibular de direito (a faculdade de Direito era a única escola do gênero, na época) da Universidade Federal do Ceará, também a única,nesse tempo, 1960.Vibrei quando o jornal publicou a minha aprovação. Passaram 250 candidatos. Aos 18 anos estava matriculada no primeiro ano de direito. Passei a morar na residência universitária. O período na universidade foi um tempo mágico. Nos dois últimos anos da faculdade, estagiei na Assistência Judiciária aos Necessitados, hoje, Defensoria Pública. Em 1965 concluí o referido curso.

VIDA PROFISSIONAL
Com a minha inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Ceará, advoguei em Saboeiro, Jucás, Aiuaba e Fortaleza. Poucas mulheres advogavam até então e poucas se graduavam em direito.
Tive a honra de exercer o Ministério Público, na qualidade de Adjunto de Promotor de Justiça, em exercício na comarca de Saboeiro, de 1966 a 1969.
Por fim, veio o primeiro concurso para juiz após minha formatura. O Tribunal de Justiça indeferiu a minha inscrição, porque não tinha a idade mínima estabelecida, 23 anos.No concurso seguinte, inscrevi-me e logrei aprovação. Passaram 14 candidatos, dentre eles, quatro mulheres. Ser Juíza era o que eu sonhava já com10 anos de idade. Conseguira. A alegria transbordava em mim com a notícia.
Em 1970, pelo então governador do Estado – Dr. Plácido Aderaldo Castelo fui nomeada para a comarca de Ubajara, no planalto da Ibiapaba e vieram, a seguir, sucessivamente, Santa Quitéria, São Gonçalo do Amarante, Iguatu e, por último, em 1981, a Capital.
Em Fortaleza, fui titular, durante muitos anos, da 6ª Vara de Família e Sucessões, saindo para a 32ª Vara Cível, e, a seguir para a 1ª Vara Cível.
Nesse período, em Fortaleza, tive a oportunidade de conhecer o funcionamento do Poder Judiciário de outros países, fazendo cursos, no período de férias, na universidade Complutense de Madri, em Miami, nos EE.UU e na famosa universidade de Coimbra, em Portugal. A faculdade de Direito de Coimbra, foi a primeira escola no gênero criada no continente europeu.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Em 2004,eleita desembargadora, fui a primeira mulher a ingressar no Tribunal de Justiça do Estado, pelo critério de merecimento. As sete juízas que me antecederam na referida Corte de Justiça foramtodas elas promovidas por antiguidade. Não porque não tivessem mérito. O Tribunal de Justiça era composto só de homens. As mulheres iam, até então, devagar, impostas por lei. As promoções, quando a vaga existia, eram e ainda são alternadas, uma, por merecimento, outra, por antiguidade.
No Tribunal, o serviço judicante é organizado em Câmaras, cíveis, criminais, Tribunal Pleno, Câmaras cíveis reunidas, Câmaras criminais reunidas e, atualmente, o Órgão Especial. Assim, integrei a 3ª Câmara Cível, fazendo parte do Tribunal Pleno, das Câmaras cíveis reunidas e do Órgão Especial.  Ainda em 2004, com a criação da Ouvidoria do Tribunal de Justiça, fui designada a primeira Ouvidora do Poder Judiciário. Nesse período escrevi o livro: Ouvidoria - História e Desafios, lançado no Tribunal de Justiça. Em dezembro de 2010, meus pares elegeram-me Corregedora Geral da Justiça para o biênio 2011/2012. A honra não poderia ser maior, servir ao Poder Judiciário do meu País e o fiz até janeiro do corrente ano com dedicação e amor. Sinto-me agraciada por tudo.


Um comentário:

  1. Que orgulho sinto desta pequena GRANDE mulher! Parabéns Dra. Edite Bringel Olinda e parabéns Saboeiro por ter filha tão ilustre. Meu agradecimento ao blog saboeiroexiste por me dar a oportunidade de rever Edite Bringel e sua trajetória de vida.

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