Essa notável mulher saboeirense é uma das maiores personalidades do Estado do Ceará, e foi destaque na 5ª edição do jornal Folha Semanal. Filha da não menos notável Professora Dáulia Bringel Olinda, e do saudoso Edmundo Olinda, Edite Bringel Olinda é desembargadora, e tem uma história de vida repleta de conquistas e boas lembranças da infância na pequena Saboeiro, sua terra natal. Bem nascida no seio de uma família numerosa, de pessoas do bem e vencedores nas mais diversas áreas, nossa personalidade revela a Saboeiro um pouco da sua biografia.
Desa. Edite Bringel Olinda, na sua posse no STJ |
SABOEIRO, meu
nascimento e infância.
Por que Saboeiro? Minha mãe – Dáulia Bringel Olinda, ao concluir
seu curso normal no Colégio Santa Teresa do Crato, resolveu ensinar nas Escolas
Reunidas de Saboeiro. Solteira, casou com meu pai – Edmundo Olinda Cavalcante.
Praticamente vivi na Escola, porque minha mãe costumava levar-me, mesmo sem
maternal ou jardim (esses cursos não existiam naquela época). É, assim, um
privilégio ser filho ou filha de professora. Nesta pequena escola fiz o curso
primário, as quatro séries. Num bom sentido, a cidade me expulsou. Era só o que
oferecia em matéria de estudo. Por outro lado, gratificou-me com uma infância
muito rica. Tomar banho de chuva no meio da rua naquelas bicas de jacaré,
correndo e passando por todas as outras na rua de baixo (Visconde do Icó), com
meus irmãos e outros companheiros infantis também rindo, correndo, celebrando
tudo, a chuva, a brincadeira, a bem-querença. Fazia açudes na rua de baixo e a água
vinda da rua de cima arrombava os açudes e com os amigos fazíamos outro e
outros até a chuva passar. Era uma festa!As brincadeiras de roda no patamar da
igreja de Nossa Senhora da Purificação. Não tinha o cruzeiro na época e o patamar
era enorme. Lembro ainda da cantoria: “Eu sou pobre,...pobre...pobre de maré,
maré, maré...”; “ atirei o pau no gato tótó, mas o gato tótó não morreu, reu,
reu,”e mais. E o banho no rio Jaguaribe! Que delícia que era! Os jogos de bola
no meio da rua. As brincadeiras com meus irmãos em casa, respeitada a hora de
estudar, fazer os deveres da escola, isso era sagrado. Minha mãe cobrava mesmo
e fiscalizava. Não tinha desculpa. Tolerância zero.
IGUATU
Aos dez anos de idade fui
prestar o exame de admissão no Colégio São José, dirigido pelas religiosas
Filhas de Santa Teresa. Os colégios da época ou eramfemininos ou masculinos. Isso
mesmo. Consegui aprovação. Meus pais
levaram-me para o colégio onde ficaria interna. Quando me entregaram às
freiras, ainda hoje a saudade dói, a separação foi muito difícil. Minha mãe chorou
durante toda a sua viagem de volta, foi tanta lágrima que o meu pai perguntou
se ela queria voltar para buscar-me. – Não, nem que eu morra de saudade.
Neste colégio permaneci
quatro anos, o curso ginasial, do primeiro ao quarto.(Hoje, lamento, o meu colégio
não existe mais). Alegrava-me com a chegada das férias, em Saboeiro. Na época,
os meios de transporte eram difíceis, a estrada não tinha asfalto, de sorte que
Iguatu se tornava longe. Contudo, não havia outra maneira de estudar. Muito
duro! Eu era bem pequena e muito apegada aos meus pais. Terminado o curso
ginasial, também tive de deixar Iguatu. A cidade não me oferecia mais que isso.
FORTALEZA
Colégio da Imaculada
Conceição. Feminino e também dirigido por freiras, irmãs de caridade. Estava
matriculada no primeiro ano do curso clássico e também fiquei interna. Pra mim,
não havia outra forma de estudar. Assim permaneci por dois anos e meio, até o último
semestre do terceiro ano clássico. Daí, passei a residir num pensionato de
freiras, da mesma congregação religiosa de Iguatu, as Irmãs de Santa Teresa. Fiz
o vestibular de direito (a faculdade de Direito era a única escola do gênero,
na época) da Universidade Federal do Ceará, também a única,nesse tempo, 1960.Vibrei
quando o jornal publicou a minha aprovação. Passaram 250 candidatos. Aos 18
anos estava matriculada no primeiro ano de direito. Passei a morar na
residência universitária. O período na universidade foi um tempo mágico. Nos
dois últimos anos da faculdade, estagiei na Assistência Judiciária aos
Necessitados, hoje, Defensoria Pública. Em 1965 concluí o referido curso.
VIDA PROFISSIONAL
Com a minha inscrição
na Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Ceará, advoguei em Saboeiro, Jucás, Aiuaba
e Fortaleza. Poucas mulheres advogavam até então e poucas se graduavam em
direito.
Tive a honra de exercer
o Ministério Público, na qualidade de Adjunto de Promotor de Justiça, em
exercício na comarca de Saboeiro, de 1966 a 1969.
Por fim, veio o
primeiro concurso para juiz após minha formatura. O Tribunal de Justiça
indeferiu a minha inscrição, porque não tinha a idade mínima estabelecida, 23
anos.No concurso seguinte, inscrevi-me e logrei aprovação. Passaram 14 candidatos,
dentre eles, quatro mulheres. Ser Juíza era o que eu sonhava já com10 anos de
idade. Conseguira. A alegria transbordava em mim com a notícia.
Em 1970, pelo então
governador do Estado – Dr. Plácido Aderaldo Castelo fui nomeada para a comarca
de Ubajara, no planalto da Ibiapaba e vieram, a seguir, sucessivamente, Santa
Quitéria, São Gonçalo do Amarante, Iguatu e, por último, em 1981, a Capital.
Em Fortaleza, fui
titular, durante muitos anos, da 6ª Vara de Família e Sucessões, saindo para a
32ª Vara Cível, e, a seguir para a 1ª Vara Cível.
Nesse período, em
Fortaleza, tive a oportunidade de conhecer o funcionamento do Poder Judiciário
de outros países, fazendo cursos, no período de férias, na universidade
Complutense de Madri, em Miami, nos EE.UU e na famosa universidade de Coimbra,
em Portugal. A faculdade de Direito de Coimbra, foi a primeira escola no gênero
criada no continente europeu.
TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
Em
2004,eleita desembargadora, fui a primeira mulher a ingressar no Tribunal de
Justiça do Estado, pelo critério de merecimento. As sete juízas que me
antecederam na referida Corte de Justiça foramtodas elas promovidas por
antiguidade. Não porque não tivessem mérito. O Tribunal de Justiça era composto
só de homens. As mulheres iam, até então, devagar, impostas por lei. As
promoções, quando a vaga existia, eram e ainda são alternadas, uma, por
merecimento, outra, por antiguidade.
No Tribunal, o serviço judicante é organizado
em Câmaras, cíveis, criminais, Tribunal Pleno, Câmaras cíveis reunidas, Câmaras
criminais reunidas e, atualmente, o Órgão Especial. Assim, integrei a 3ª Câmara
Cível, fazendo parte do Tribunal Pleno, das Câmaras cíveis reunidas e do Órgão Especial. Ainda em 2004, com a criação da Ouvidoria do
Tribunal de Justiça, fui designada a primeira Ouvidora do Poder Judiciário. Nesse
período escrevi o livro: Ouvidoria - História e Desafios, lançado no Tribunal
de Justiça. Em dezembro de 2010, meus pares elegeram-me Corregedora Geral da
Justiça para o biênio 2011/2012. A honra não poderia ser maior, servir ao Poder
Judiciário do meu País e o fiz até janeiro do corrente ano com dedicação e
amor. Sinto-me agraciada por tudo.
Que orgulho sinto desta pequena GRANDE mulher! Parabéns Dra. Edite Bringel Olinda e parabéns Saboeiro por ter filha tão ilustre. Meu agradecimento ao blog saboeiroexiste por me dar a oportunidade de rever Edite Bringel e sua trajetória de vida.
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