Imagem ilustrativa (internet) |
O Município de Saboeiro, estrategicamente
situado na divisa das regiões Centro-Sul, Inhamuns e Cariri-Oeste tem um forte
contexto histórico-político no Estado do Ceará. A sede do município tem 192
anos de emancipação política, porém, o desenvolvimento do município se deu a
passos muitos lentos. E ainda estamos muito longe do progresso sonhado, pois a população depende exclusivamente de benefícios sociais e empregos vinculados à administração pública, o que gera subserviência em todos os estágios. E onde não existe liberdade, não existe crescimento.
Saboeiro tem uma marcante
história de oligarquias que se mantiveram no poder por diversos anos. Como exemplo
disso, citamos o reinado da Família Nocrato, que comandou a cidade por longos
36 anos, em seguida Perboyre Diógenes, que mandou por 16 anos, e recentemente,
Marcondes Ferraz, o atual gestor que foi reeleito e já está na reta final do
seu segundo mandato, e sinaliza seu interesse de fazer seu sucessor, e assim,
continuar no comando por trás das cortinas. Nas últimas eleições, o atual
Prefeito, Marcondes Herbster Ferraz, venceu a disputa com 58,54 % dos votos
válidos, na época candidato pelo Partido da Social Democracia Brasileira- PSDB,
totalizando 5.929 votos. A principal adversária de Marcondes, Nathália
Diógenes, do PMDB, filha de Perboyre Diógenes, ficou com 40,36 % dos votos
válidos, um total de 4.088 votos.
As eleições em Saboeiro sempre
foram polarizadas. Quando não havia dois únicos candidatos, um terceiro não
exercia nenhuma relevância em relação aos dois principais. Atualmente, porém, é
notória a divisão entre três grupos políticos: 1- PROS do atual Prefeito e
todos os vereadores da situação; 2- PMDB do ex-deputado Perboyre Diógenes, que
tem o apoio de quatro vereadores; 3- PC do B, do ex-vereador Germano
Florentino. Além desses três grupos mais fortes, tem o grupo do PT, que tem
intenções de fortalecer o partido, mas dificilmente deixará de aliar-se a algum
dos outros três grupos. Apesar do PT estar nacionalmente debilitado, o Ceará
tem um Governador petista, e por esse motivo a sigla deve exercer uma
importante influência na eleição municipal, mas dificilmente o candidato seja
do próprio partido. Na última eleição, o PT lançou candidatura própria,
alcançando um total de 111 votos, equivalente a 1,10 % dos votos válidos. O
Partido dos Trabalhadores de Saboeiro apesar de décadas de seu surgimento, não
conseguiu eleger nem mesmo um vereador em toda sua existência. A probabilidade
é que o PT municipal fala adiante aliança com o candidato do PROS, que faz parte
atualmente da base aliada do Governador no município.
Reviravoltas
Apesar da maioria obtida nas
urnas nas últimas eleições, o Prefeito Marcondes Ferraz tem obtido um grande
desgaste, ao longo dos seus anos à frente do executivo municipal. O candidato
que a grande maioria da população de Saboeiro só conhecia de nome, foi eleito
devido o grande desgaste de Perboyre Diógenes na época, a partir da aliança
entre todas as lideranças de oposição e do forte desejo de mudança que invadiu
os saboeirenses. Todavia, a primeira reviravolta se deu quando o próprio grupo
começou a rachar. Logo no primeiro trimestre da primeira gestão, o próprio
Vice-Prefeito Nino rompeu com o Prefeito, evidenciando que algo começava a dar
errado. Acordos começaram a ser quebrados, e a lista de insatisfeitos a pular
fora do barco foi grande. As mãos mais fortes que se uniram e financiaram a
campanha de Marcondes Ferraz foram desprestigiadas pelo gestor. Dentre eles, as
famílias Nocrato, Cavalcante, a família do Vereador Iran, a família do vereador
Germano, entre diversos outros. No começo tudo parecia ser um mar de rosas, mas
logo a população começou a perceber que o Prefeito de falar manso e modos
educados, não era capaz de ser leal aos seus companheiros, não cumpria o que
prometia e era muito ausente do município. Mesmo assim, o cara foi reeleito. A máquina nas mãos e o hábito tenebroso de venda de votos que sempre fez parte da cultura da maioria despreparada pra fazer uma escolha eficaz, somada a falta de um nome novo, e o
lançamento da candidatura de Nathália Diógenes de última hora, após ser
constatada a inelegibilidade de seu pai, Perboyre Diógenes, levaram Marcondes Ferraz de novo ao poder, após uma campanha eleitoral que alcançou diversas cifras. Não podemos esquecer de registrar os votos de cabresto e o medo de funcionários de votar contra o prefeito, especialmente os que eram apenas contatados.
Já nas proximidades da
última eleição, houve novos rompimentos, e na dança das cadeiras, alguns nomes
pularam pra panela do Prefeito, como o atual Vice-Prefeito, Gotardo Martins,
primo e amigo de Perboyre Diógenes, eterno sonhador em ocupar o cargo de
Prefeito de Saboeiro. Como parte do acordo, estava a promessa da candidatura a
vice, mesmo contrariando novamente a opinião do resto dos aliados que
permaneciam fiéis em detrimento de alguém que acabava de chegar no grupo. Reduções salariais, acúmulo de
obras não acabadas e más administradas, demissões em massa após as eleições
quando se contratava irregularmente antes das mesmas, foram alguns outros
componentes que contribuíram para o desgaste do atual gestor, que mesmo assim
venceu a disputa, pelas razões já citadas. Nas duas eleições, uma espécie de
livrinho, popularmente chamados de “cartilhas das promessas” foram impressos e
registrados em cartórios, mas, apesar da segunda edição conter praticamente as
mesmas promessas não realizadas até o final do primeiro mandato, falta muito a
se cumprir até esse final de segundo mandato. Dentre as promessas surreais,
está a compra de uma moto para cada Agente de saúde, quando estes mal recebem
fardamento e protetor solar.
O cenário atual aponta para um
clima de incerteza. O desgaste do prefeito fortaleceu novamente o nome de
Perboyre Diógenes, que ainda é a principal liderança de oposição. Animado com a
perspectiva de retomar o poder, Perboyre adota nova estratégia, usando de mais
prudência em seus discursos e diálogos, reconhecendo seus erros cometidos no
passado, e falando do seu desejo de voltar e fazer diferente. No exercício da
medicina, faz uso disso como um meio de se reaproximar da comunidade. É
evidente que ele ainda é praticamente idolatrado por muitas pessoas, ao passo
que ainda existe algumas pessoas que o rejeitam fortemente pelos processos que envolveram seu nome em casos de corrupção. O
que podemos observar claramente, é que a votação de Perboyre se mantém com uma
média de 4 mil votos. O desfio é conquistar mais votos para assim retomar o
poder na cidade. Aparentemente mais sensato, ponderado em palavras e atitudes, Perboyre
alega que poderá ser candidato nas próximas eleições, e que abrirá mão de uma
candidatura própria apenas para outro candidato do seu partido, se assim for a
vontade do povo representada nas pesquisas. “Eu tenho condições de ser
candidato a Prefeito de minha terra novamente, e assim o farei se for a vontade
do povo. É meu direito querer ser candidato e só não serei se nas pesquisas
tiver um candidato da oposição que ganhe a preferência do eleitorado. Quero uma
chance a mais de consertar meus erros e poder voltar a ajudar meu povo, como
fiz durante todos os anos que estive à frente da Prefeitura, mas com maior
responsabilidade e consciente que a vontade do povo é soberana”. Enquanto o
cenário das próximas eleições se desenha, Perboyre está de volta ao exercício
da medicina, e ficou residência novamente na cidade, e entre um plantão e outro nos municípios vizinhos, vem visitando as comunidades,
percorrendo todo o município, dialogando a população e falando pessoalmente do
seu propósito. O líder do PMDB ainda tem muito carisma e é adepto de uma legião de fãs, correligionários e amigos fiéis.
Nota-se que ainda há muito jogo, os times estão em campo. Enquanto Perboyre está em campo,
o Prefeito Marcondes corre atrás do prejuízo, tentando dar celeridade às obras
que estão andando lentamente ou paradas. Alheio às necessidades culturais e
esportivas do município, o gestor concentra suas energias nas obras que arranja
para o município, e faz deste seu maior argumento para conquistar a empatia do
eleitorado. Por outro lado, ainda é visível que funcionários não têm liberdade
suficiente para se posicionar contra o prefeito, que logo é represaliado, intimidado e até perseguido pelo próprio Prefeito ou alguém do grupo. Mas há quem o idolatre
também, outros que fingem rezar na mesma cartilha para não perder cargo de
confiança e posição social. A grande incógnita está no nome
do candidato á sua sucessão nas próximas eleições. Ao que tudo indica, muitos
do grupo esperam ser o candidato escolhido, dentre eles, o próprio vice Gotardo
Martins, o secretário de Administração Gilvan Ferreira, o seu fiel escudeiro
Vereador Ernani Júnior, seu “assessor especial” Eugenio Bastos. As maiores
apostas são no nome da Secretária de Assistência Social, Aurileide Soriano. Há
ainda quem diga que o candidato será um sobrinho do Prefeito, que ninguém nunca
viu em Saboeiro. Mas, o gestor ainda não se manifestou sobre a indicação, e usa
do discurso que tá preocupado em administrar o município, que essa é uma
questão pra ser decidia depois.
Nas reviravoltas ainda tem as lideranças que ficam pulando de galho em galho, pulam pra frente e pulam pra trás, foi o caso do vereador Gilson da Barrinha, e mais recentemente, de Wilna e Paulo Cavalcante, que se uniram na última campanha em nome da criação de uma terceira via, mas "explicavelmente" voltaram atrás e se encontram novamente no aprisco do atual gestor.
A Terceira Via
Nas últimas eleições para Governo
do Estado, Deputados e Senadores, formou-se o que se desenha como terceira via
mais substancial em Saboeiro, o grupo liderado pelo ex-vereador Germano
Florentino, do PC do B. Germano, que não esconde seu desejo de vir a ser um dia
prefeito de sua terra, diz que não se aponta como pré-candidato pela terceira
via, mas ressalta os interesses de todo o grupo, e diz que o candidato sairá do
resultado de pesquisas. Apesar de ter uma votação mais expressiva no Distrito
Flamengo, onde nasceu e viveu até adolescência e é muito querido, Germano
procura disseminar seus ideais políticos em todo o município, e desde a
campanha pra eleger seu candidato a deputado, Agenor Neto, vem também visitando
as comunidades, no que popularmente chamamos de “comer pelas beiradas”. Enquanto as duas maiores lideranças da
oposição defendem que Germano, o principal nome da terceira via, só tem votos
no Distrito de Flamengo, a liderança contra-argumenta que não existe hoje
nenhuma rejeição ao seu nome, nenhum desgaste, e que isso conta a favor do seu
grupo. “Tenho um posicionamento político próprio, diferenciado, e acredito numa
política que venha a produzir uma mudança na vida das pessoas. Meu nome vai pra
pesquisa, assim como o nome de outras lideranças do nosso grupo, porque eu
respeito o processo político. O nome com mais aceitação deverá ser o candidato
que irá disputar as próximas eleições com os outros dois candidatos.” Indagado
se existe possiblidade de aliança com algum dos ouros dois grupos, Germano diz
que é praticamente impossível. “Fiz parte de um grupo político numa época em
que esse grupo representava a mudança necessária, o avanço que Saboeiro
precisava, embora sabendo que não era o modelo ideal, mas que era o avanço
disponível no momento. Deixei esse grupo que estava no poder porque não
concordei com uma série de ações que esse governo passou a adotar. Não vejo
possibilidade de aliança com os outros dois grupos, porque percebo que eles têm
um dono, as vontades de seus líderes se sobrepõem às vontades do resto de seus
grupos. E eu não acredito mais nesse jeito de fazer política. Tenho a visão de
pensamento e decisões tomadas em grupo. Para mim, ganhar as eleições,
representa ver o município com alternativas, justiça social, com qualidade de
vida e valorização das competências dos filhos da terra, quesito que,
principalmente nesse governo, foi deixado de lado”, ressaltou o líder do PC do
B. Germano esclareceu que o compromisso com o deputado eleito Agenor Neto, é
apoio para a candidatura da terceira via nas próximas eleições. Idealista,
Germano acredita que chegará o dia em que o eleitorado saboeirense votará
conscientemente, e não pela compra de voto, mas garantiu que o partido terá
dinheiro suficiente para as despesas da campanha. Mas há quem diga que não acredita que a disposição da terceira via vá até o fim, que faltará recursos para enfrentar uma campanha para Prefeito e que sera possível uma aliança com o grupo de Perboyre, se este não for o cabeça de chapa.
No grupo de Perboyre Diógenes, os
nomes mais fortes, além do próprio Perboyre, despontam nomes como o Dr Tácido
Cavalcante, Cléber Cavalcante, Vereador Tontonho e
Vereador Arnóbio Júnior, embora outros aliados do ex-deputado também queiram
que seus nomes sejam incluídos nas pesquisas. Os dois últimos aqui listados são
os dois mais apontados pela população. Lideranças de outro partido, como
Filúvio Filho, do PR, sinaliza apoio a Perboyre.
O que fica evidente, em meio a
esse jogo de interesses, é que toda a oposição que se reuniu para antes tirar
Perboyre do poder, precisa se unir se quiser tirar agora Marcondes do poder. É
preciso esquecer os interesses individualistas e se começar a pensar em
Saboeiro. O povo tá insatisfeito, descrente da política, apesar dos grupos
terem seus adeptos fervorosos. Existe uma parcela que está em standby,
aguardando o cenário ficar mais definido para se posicionar. Especialmente os
jovens, querem sentir algo mais concreto para se apoiarem. Os votos de uma casa
não são mais definidos pelo chefe da família, hoje cada um escolhe seu
candidato. É preciso sim um despertar de consciência para que não se caia em
engodos, se deixe levar por promessas que se repetem sem terem sido cumpridas.
Aos poucos, os currais eleitorais vão desmoronando. O processo é lento, mas
estamos caminhando para uma conscientização política mais relevante. Vejam o
que diz um jovem acadêmico de Direito, Sérgio Sampaio Olinda, sobre o assunto:
“Eleger representantes para defender os nossos interesses e necessidades é
direito e dever de todo mundo. O que chama atenção é o lançamento de
candidaturas políticas baseadas em interesses divergentes do foco principal.
Pessoas despreparadas que estão ali como marionetes. O interesse é maior em
"ter o poder" do que "o que fazer com esse poder". Aproveitam-se
da situação e usam de suas armas, onde é a promessa de tirar o atual e
substitui-lo por renovação. Renovação esta que em meio ao quadro político
atual, não virá tão fácil como imaginam. É a velha história de trocar seis por
meia dúzia, onde tiramos alguém que fez de seu mandato uma brincadeira de
casinha, pondo em seu lugar alguém sem preparo que possa a vir dar sequência à
brincadeira”!
Aécia Leal.
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