quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Projeto Lamparina de Histórias em Saboeiro

O projeto Lamparina de Histórias entra em cena hoje, em Saboeiro, reunindo contadores de história tradicionais

Os contadores de histórias sempre estiveram presentes nas culturas e na história da humanidade. São aquelas pessoas que repassam, por meio da narrativa oral, conhecimentos, mitos, cultura, valores e a própria história do seu povo. A pessoa idosa é, na maioria das vezes, a grande narradora das histórias de seu lugar e tem papel importante na perpetuação desta cultura.

Em volta do fogo, após a colheita, nas noites de lua cheia ou mesmo na beirada da cama, essas pessoas têm contribuído com a construção do imaginário e da memória de sua cultura. Aqui no Ceará, a partir de hoje, diversos contadores tradicionais estarão reunidos no evento cultural Lamparina de Histórias, para compartilhar seus causos.

O Lamparina de Histórias reúne narradores tradicionais e amantes da velha arte de contar histórias para a celebração da palavra através dos causos, lendas, adivinhas, crendices e canções pertencentes à cultura popular. A sua primeira parada acontece hoje no Sertão dos Inhamuns, no Município de Saboeiro. A Praça do Fórum será palco deste evento, a partir das 17h30. Será realizado, ainda, em sete cidades cearenses: Aquiraz, Assaré, Canindé, Caucaia, Fortaleza, Itarema e São Gonçalo do Amarante.

O horário foi pensando estrategicamente. A chegada da noite é festejada com muitas histórias, dessas de trancoso, que arrepiam a alma, num medo tão bom, que tem sempre muita gente, só pra ouvir mais uma vez, aquela história que corre de boca em boca, compondo a literatura oral do nosso povo.

"Além das histórias, os saboeirenses se divertirão, também, com as apresentações do pastoril, dança de São Gonçalo, repentistas, cordelistas, sanfoneiro e o grupo Era uma vez, de Fortaleza", diz a organizadora e também contadora de histórias, Júlia Barros, que já está na cidade de Saboeiro visitando alguns moradores narradores.

Noite no sertão

A organizadora conta que o evento "nasceu justamente da necessidade de conhecer os contadores de história tradicionais das cidades cearenses. Quem são os contadores, o que fazem, onde estão". Segundo ela, sua infância foi sempre recheada de histórias, mesmo sendo criada na cidade grande. No entanto, tinha a curiosidade de saber como era no sertão. "Sempre ouvi muita história, mas eu não conhecia o interior a fundo. Uma vez fui a Saboeiro e vi um céu diferente, no sítio. Vi umas pessoas andando, a noite, com lamparinas, indo na mesma direção. Era noite de lua cheia e aquilo me encantou. Não conhecia o sertão. Eu guardei aquela imagem na minha cabeça", conta sobre a sua primeira experiência sertaneja.

Um outro momento marcante para Júlia Barros e que influenciou na criação do projeto Lamparinas de Histórias foi o contato com os idosos. "Fui para oficina no Centro de idosos. Eles começaram a contar histórias e não pararam mais", disse. A partir daí, a pesquisadora pensou em elaborar um projeto para identificar esses contadores em outras cidades cearenses.

O projeto piloto do Lamparina contou com três edições na Região Metropolitana de Fortaleza. "Em parceria com a Casa do Conto, realizamos três edições, nos bairros Dias Macedo e João XXIII, em Fortaleza, e no Boqueirão dos Cunhas, Caucaia. Aconteceu de uma forma muito amadora. Era só o desejo de conhecer e reconhecer os contadores do lugar", disse. Nessa primeira experiência, "descobrimos contadores fantásticos, como o Seu Manoel Silvestre. Ele é contador nato. Recebe você na casa dele, como se fosse amiga a muito tempo".

Mas, para o projeto ficar completo, "faltava um visual bonito, a mobilização no rádio", explica Júlia. Hoje, o projeto conta com patrocínio da Endesa Fortaleza, Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, através de edital. Com o financiamento, o Lamparina de Histórias vai chegar a mais Municípios e mais pessoas, mapeando "àquelas que não vivem tradicionalmente da arte, mas que guardam a história oral do lugar, do seu povo e que deve ser reconhecido".

Agenda

Na próxima sexta-feira, o projeto visita a terra do poeta Patativa. No mesmo horário, contadores e artistas se reunirão na Fundação Memorial Patativa do Assaré. Em cena, o Mestre Chico Paes, com sua sanfona pé-de-bode, o sobrinho do grande poeta popular Patativa do Assaré, Geraldo Gonçalves, compondo o grupo de contadores de histórias, entre outros. Além da parte festiva, todas as cidades receberão um Baú de Leitura, composto por cerca de 300 livros, entre cordéis e livros.

MAIS INFORMAÇÕES

Júlia Barros - Organizadora do Lamparina de Histórias
(85) 8894.2141 3252.3343

historiasdajulia@hotmail.com
Fonte: Diário do Nordeste

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